sábado, 20 de novembro de 2010

Refletindo sobre a agressão na Av. Paulista

Anivaldo da Cultura

Tenho certeza que a maioria viu nos noticiários o ataque covarde a um jovem ocorrido na Av. Paulista. Neste link http://migre.me/2mDp3 está disponibilizado o vídeo com as imagens da agressão captadas por uma camera de segurança. O detalhe que foi explorado pelos noticiários é o fato de que os agressores são filhos da classe média alta, o que garantiu que em pouco tempo todos eles fossem libertados mediante pagamento de fiança.

Mas as abordagens da mídia não conseguem esconder um certo espanto pelo fato de o ato bárbaro ter sido cometido por jovens da elite, com acesso a boas escolas e a valores  "civilizados" que supostamente predominariam no meio social e cultural dos agressores.

A mensagem por trás é que atos violentos e bárbaros não fazem parte desse meio social. Seriam coisa de "marginais", de jovens sem cultura, que vivem em uma realidade marcada pela violência cotidiana. Em outras, palavras, pessoas que vivem nos bairros da periferia das cidades, habitat "natural" dos traficantes e "bandidos".

Esse discurso mal disfarçado aparece toda vez que jovens de classe média estão envolvidos em crimes que chocam a opinião pública. Na realidade, nesse tipo de discurso está presente o preconceito em relação aos jovens pobres que crescem em meio à miséria e à exclusão social. A tentativa de "criminalizar" a pobreza é, no entanto, falsa. Não há relação direta entre violência e pobreza. Isso tem sido mais do que comprovado por estudos sociológicos. O problema está na desigualdade social, no preconceito que se dissemina em relação às populações excluídas cuja face mais visível está na forma como a repressão policial se abate de maneira fatal principalmente sobre jovens pobres e negros. Basta ver o massacre promovido pela polícia há alguns anos durante os ataques do PCC.

Preconceito de classe e racismo são alguns dos ingredientes determinantes desse tipo de visão que, infelizmente, ainda tem força na sociedade.

Por outro lado, não se justifica o espanto diante de atos bárbaros de jovens da elite. Lembremos do índio Galdino morto por causa de uma"brincadeira" de jovens ricos de Brasília, que resolveram se divertir atenado fogo no índio quando estava dormindo na rua. E há outros casos mais.

Ser da elite, ter acesso a boas escolas e à cultura, não significa muita coisa. Menos ainda garante que se tenha valores humanistas ou solidários. Pelo contrário, os valores da elite promovem o individualismo, o preconceito diante dos menos favorecidos, fortalece a idéia de que a medida do ser humano está nas suas posses materiais.

No caso da agressão da Av. Paulista mostra o quanto a homofobia e o machismo estão enraizados nesses jovens que, apesar de desfrutarem de condições favoráveis, compartilham idéias retrógradas, além do ódio alimentado pelo preconceito.

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